quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Integrantes do Moto Club em viagem pelo Uruguai e Argentina

        Ano novo, metas novas, renovação de esperanças... e porque não novas aventuras sobre duas rodas?
Temos visto uma ótima fase de expansão dos destinos das viagens de nossos companheiros motociclistas. As divisas estaduais não têm sido mais limites para o moto-turismo e as fronteiras não são mais tão longínquas como imaginávamos.
       Recentemente tratamos aqui neste blog da Expedição ao Extremo Sul de nosso associado Paulo Victor. Hoje temos o imenso prazer de relatar mais uma bela viagem de outros companheiros do MOTO CLUB DE CAMPOS, o Carlos Eduardo Caldas (Dudu) e sua esposa Bárbara Caldas.
      Vamos deixar o Eduardo contar para todos nós como foi esta aventura:


      “No dia 02 de janeiro de 2012, Bárbara e eu saímos em nossa Yamaha FAZER 600 em direção a Buenos Aires, Argentina. No roteiro da estavam Punta Del Este, Montevidéu e Colônia Del Sacramento no trajeto no Uruguai. No retorno para o Brasil passaríamos por Gramado, Canela, Cânion de Itaimbezinho (Cambará do Sul – RS) e a Serra do Rio do Rastro (Santa Catarina).
      No primeiro dia de viagem, chuva forte até a Serra das Araras (SP). Fizemos o primeiro pernoite em Registro, quando descobri que toda minha roupa que estava no alforje tinha molhado mesmo com a capa protetora.  Sorte que tinha uma bermuda e uma camisa no baú traseiro. Ainda descobri que a alavanca da marcha não estava tendo um bom retorno e comecei a ter dificuldades com a redução da marcha. Fiquei preocupado e durante a noite liguei para Sérgio Cortes (Tio da Barbara e proprietário da SR Motos) para saber que medida tomar.
       No segundo dia de viagem, sol forte, sem sinal de chuva, boas estradas, mas ainda estava preocupado com a marcha e parei em Curitiba em uma concessionária Yamaha para tentar resolver o problema. Parecia que a mola de retorno estava sem pressão e não havia esta peça em Curitiba. Solução: colocar uma mola externa para realizar o trabalho. Funcionou, mas agora subir as marchas estava complicado. Pensei em desistir da viagem, afinal estávamos com apenas 1100 quilômetros rodados, quando resolvi parar em um posto e procurar uma mola nas imediações.  Coloquei outra mola no sentido contrário daquela colocada na concessionária. Resultado: a marcha ficou 100%.
       Nesse dia o objetivo era fazer um pernoite em Caxias do Sul. Antes de chegar, na altura de Lages, encontramos dois motociclistas de Brasília que estavam voltando da Argentina (Mar Del Plata e Buenos Aires) e Uruguai. Eles tinham acabado de subir a Serra do Rio do Rastro.  Depois de conselhos quanto ao uso de moeda estrangeira (o Real é aceito na maioria dos estabelecimentos), cuidados com a polícia, e votos de boa viagem seguimos em frente, pois ainda chegaríamos a Caxias do Sul.  Chegando lá nos deparamos com uma cidade deserta.  Perguntamos no hotel o que estava acontecendo: eram férias escolares, as indústrias também deram férias aos funcionários e todos, ou quase todos, estavam no litoral.
       Ainda com sol forte, o objetivo do terceiro dia era chegar em Punta Del Este, mas antes parei em uma patrulha rodoviária federal em Rio Grande, para pedir informação sobre onde tirar o seguro carta verde (obrigatório no Mercosul). O policial informou que tinha uma agência do Banco do Brasil que fazia o seguro. Lá fui eu para o banco com todo o equipamento de viagem naquele calor. Depois de esperar cerca de 1 hora o funcionário informou que não faziam mais o seguro, a não ser que já fosse segurado pelo banco, o que não era o caso, mas comunicou que no Chuí encontraríamos facilmente agências especializadas. Voltamos para estrada e pegamos cerca de 240 quilômetros de Rio Grande até o Chuí.  Um trecho de retas infinitas, onde o pneu traseiro começou a sofrer. Vale ressaltar que antes de chegar neste trecho, tínhamos informações que o último posto de combustível estava ali em Rio Grande.
       Chegando ao Chuí, que mais parecia uma Índia devido a confusão no trânsito, procuramos a tal agência. Pagamos o seguro carta verde para 10 dias, o que custou R$ 112,00, abastecemos a moto e  fomos em direção a Aduana. Foi bem tranqüilo fazer a migração. Documentos em mãos e um objetivo: chegar a Punta Del Este.  Logo no caminho fomos parados pela polícia (que não pode ver motociclista). Como já tinha sido instruído pelos colegas de Brasília, andei sempre na velocidade permitida para evitar problemas. Os policiais foram cordiais, pediram os documentos, olharam a moto e desejaram boa viagem.


       Enfim, chegamos a Punta Del Este. E como no Brasil, principalmente no Nordeste, para se chegar a um belo lugar se passa por muita miséria, no Uruguai não é diferente. Chegando ao local que é considerado um dos dez balneários de luxo mais famosos do mundo, nos deparamos com belas estruturas arquitetônicas e ruas lotadas. Afinal, era janeiro, calor, férias... Ainda tínhamos que procurar um local para ficar. Passamos pela rua principal que estava lotada, e chegamos bem na península, parei a moto próximo a uma pousada (Las Palmas), coloquei meu “portunhol” em prática e nos hospedamos. Foram dois dias “babando” com a riqueza do local e um belo por do sol às 21h20min na Casapueblo. Adoramos o lugar.
       Na sexta-feira (06 de Janeiro) pela manhã, depois do café (fraquíssimo por sinal) pegamos a moto e fomos em direção a Montevidéu. Passamos por pedágios que não são cobrados para moto, assim como no Sul do Brasil, e chegando ao nosso objetivo.
       Percebemos a cidade vazia, era feriado local. Trânsito bom e leve. Fomos fazer um reconhecimento quando avistamos um grupo de motociclistas em uma praça e resolvi fazer a volta e parar. Era o pessoal do L.A.M.A. (Latin American Motorcycle Association). Para minha surpresa, estavam com câmeras a postos e filmaram nossa chegada. Eles estavam lá para arrecadar presentes para crianças. Pareciam que estavam nos esperando, antes mesmo de descermos da moto já estavam nos abraçando e beijando (o que é comum por lá). Bom papo, troca de adesivos, fotos, orientações e vários convites para acompanhá-los ao hospital para dar os presentes as crianças e comermos um bom churrasco. Mas infelizmente tínhamos que voltar ao nosso objetivo do dia: Buenos Aires.


       Dois integrantes nos guiaram a um bom restaurante para almoçarmos e logo depois pé na estrada em direção a Colônia Del Sacramento para fazermos a travessia pelo Buquebus (Barco de transporte fluvial de passageiros que une o Uruguai a Argentina). No caminho mais policia, porém sem problemas. Chegamos a Colônia e fomos direto à estação de Buquebus. Compramos as passagens que o vento quase levou e embarcamos para Buenos Aires. Uma travessia de três horas com muito vento, o barco balançava demais; chegamos lá às 22h (local), 23h do Brasil.
       Passamos dois dias passeando pela bela capital, por San Isidro e Tigre onde fizemos o passeio de barco.
       Na segunda-feira, pegamos a moto e fomos em direção a Gualeguaychu que faz fronteira com Fray Bentos (Uruguai). Depois da migração, pegamos estrada com destino a Santana do livramento no Brasil. Foi o pior trecho da estrada. Passamos por Paysandu (Uruguai) e logo depois, enfrentamos um calor infernal num verdadeiro deserto uruguaio.
       Andamos cerca de 170 quilômetros sem ver uma viva alma, sem quase passar por um carro e o pior sem um posto de gasolina.  Detalhe é que com a gasolina uruguaia, mesmo andando devagar por conta da polícia, a moto entrou na reserva com 270 quilômetros, o que em baixa velocidade deveria acontecer com 320. Já estava preocupado, mas quando a reserva começou a piscar. Pensei: e agora? Quando no meio do nada, avistei uma casa simples ao lado de grande galpão e não pensei duas vezes, parei para perguntar qual era a distância para o próximo posto quando veio a surpresa: eram quatro brasileiros, agricultores que gentilmente nos convidaram para entrar, beber uma água e nos doaram cerca de três litros de gasolina o que nos garantiu chegar ao próximo posto. Nossos sinceros agradecimentos.


       Chegamos à noite em Rivera, fronteira com Brasil. Fizemos a migração e atravessamos para nosso país. Naquela altura precisávamos de um bom banho e um bom descanso.  No dia seguinte, antes de embarcar na moto, lembrei que o pneu já havia sofrido para chegar ao Chuí e como peguei muito calor no Uruguai, o pneu estava quadrado e com sinais claros de desgaste. Estava torcendo para chegar as serras gaúchas e catarinenses para voltar a fazer curvas....heheh...
       Na terça-feira (10 de Janeiro) chegamos na bela e simpática Gramado. A cidade estava cheia e quando caiu a noite o lugar ficou mais especial ainda com sua iluminação de Natal. Nos hospedamos e fomos curtir Gramado e a cidade de Canela também.
       Na quinta-feira (12) fomos em direção a Cambará do Sul para conhecermos os Cânions. Como tinha estrada de chão (ruim) deixamos a moto em um posto e contratamos um taxista para nos levar ao local desejado. Valeu muito a pena, o lugar é belíssimo.
       Voltamos para o posto, pegamos a moto e fomos em direção a Lauro Muller, (Santa Catarina) para no dia seguinte subirmos a Serra do rio do Rastro.  Uma dica: em Lauro Muller não tem hotel.  Tivemos que voltar cerca de 15 quilômetros para Orleans para procurar hotel.  Chegando lá foi mais fácil e ainda descobrimos que havia vários motociclistas hospedados na cidade para fazer a subida da Serra.  Realmente é muito bonita.  São doze quilômetros de Serra. Pena que seu topo estava coberto com muita neblina, mas mesmo assim valeu a pena.
       Depois de subir a serra, pegamos a BR 116 em direção a São Paulo, e cerca de 140 quilômetros antes, eu vi que o pneu não agüentaria chegar a Campos. Como era sexta-feira, resolvi pegar um pouco de estrada a noite para chegar a São Paulo.  Assim teria o sábado pela manhã para procurar pneu, negociar preço e trocar.
       Mais uma dica: se vai a São Paulo comprar algo para a moto, procure bem antes de fechar negócio.  No mesmo pneu achei uma diferença de R$ 150,00. O melhor preço (Bridgestone – BT 16, 180/55/17) foi na Nova Suzuki, na rua General Osório.  Não estou ganhando comissão....hehehe
       Pneu trocado, e por volta de 12h saímos de São Paulo em direção a Campos. Dois quilômetros antes de pegarmos a linha Vermelha, no Rio, o maior susto da viagem: uma linha de pipa que para minha sorte se prendeu mais na bolha da moto do que em mim.  Quase terminou ali aquela viagem maravilhosa. Como uma viagem de 6.630 quilômetros quase terminou antes por causa daquela linha. Na bolha da moto as marcas de uma quase decapitação.  Andei por vários quilômetros pensando no que poderia ter acontecido.


       Na memória, cada quilômetro percorrido, cada lugar, cada pessoa que acenava quando via aquela moto com um casal em cima.  Valeu cada dia, cada chuva, o calor, o pneu que foi embora, os amigos feitos e o companheirismo nas estradas. Realmente não dá para explicar.
       Chegamos por volta das 20h30minh e nos abraçamos, afinal, tudo correu bem.  Mais uma viagem.  E antes de entrar em casa me perguntei: Quando e qual será o roteiro da próxima viagem?"


Texto e fotos enviadas por Carlos Eduardo Caldas

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